segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Simbolismo


 “Nomear um objeto significa suprimir as três quartas partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.” 
 --Mallarmé
O Simbolismo foi uma escola literária de poetas, que tinham colegas por todo mundo como o francês Charles Baudelaire, mas tinham pouco reconhecimento e aceitação artística. Vários de seus integrantes morreram pobres, não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecido até hoje.
Movimento de relações com o Modernismo, influencia a maioria dos poetas da 1ª fase do Modernismo. Aqui surgem as primeiras rupturas com os padrões rígidos de composição e restabelecimento da relação entre poesia e existência, separadas pelos parnasianos.
 Cárcere das Almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço, olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tu se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
 
 --Cruz e Sousa
 Pressago
Nas ÁGUAS daquele lago
dormita a sombra de Iago...

Um véu de luar funéreo
cobre tudo de mistério...

Há um lívido abandono
do luar no estranho sono.

Dá meia-noite na ermida,
como o último ai de uma vida.

São badaladas nevoentas,
sonolentas, sonolentas...

Do céu no estrelado luxo
passa o fantasma de um bruxo

No mar tenebroso e tetro
vaga de um náufrago o espectro.

Como fantásticos signos,
erram demônios malignos.

Na brancura das ossadas
gemem as almas penadas.

Lobisomens, feiticeiras
gargalham no luar das eiras.

Os vultos dos enforcados
uivam nos ventos irados.

Os sinos das torres frias
soluçam hipocondrias.

Luxúrias de virgens mortas
das tumbas rasgam as portas.

Andam torvos pesadelos
arrepiando os cabelos.

Coalha nos lodos abjetos
sangue roxo dos fetos.

Há rios maus, amarelos
de presságios de flagelos.

Das vesgas concupiscências
saem vis fosforescências.

Os remorsos contorcidos
mordem os ares pungidos.

A alma cobarde Judas
recebe expressões cornudas.

Negras aves de rapina
mostram a garra assassina.

Sob o céu que nos oprime
langüescem formas de crime.

Com os mais sinistros furores,
saem gemidos das flores.

Caveiras! Que horror medonho!
Parecem visões de um sonho!

A morte com Sancho Pança,
grotesca e trágica, dança.

E como um símbolo eterno,
Ritmo dos Ritmos do inferno.

No lago morto, ondulando,
dentre o luar noctivagando,

corvo hediondo crocita
da sombra d’Iago maldita!
 
 --Cruz e Sousa
 Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-me na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria dar a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu.
Seu corpo desceu ao mar...
 
 --Alphonsus Guimaraens

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