segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

REFORMA ORTOGRÁFICA tabela



Blog de fabioelionar :BLOG DO FÁBIO ELIONAR, Quadro com as mudanças da REFORMA ORTOGRÁFICAConfiram o quadro em que são listadas as modificações que começam a valer em 2009.
Este quadro foi colhido do excelente saite CANAL DO EDUCADOR (em:http://www.educador.brasilescola.com/trabalho-docente/principais-alteracoes-reforma-ortografica.htam ) e éatribuído a Marília Mendes e Amélia Hamze.

O QUE VOCÊ JÁ SABE SOBRE A REFORMA?


A reforma está aí e todo mundo já está se preocupando em aprender as novas regras e até saber o porquê da mudança. Mas não é preciso pressa, pois ainda há tempo para adaptar-se.
Para ajudar, elaboramos um questionário da reforma ortográfica. Teste seu conhecimento sobre o assunto. Responda as perguntas e confira o gabarito no fim do artigo.
JOGO DA REFORMA ORTOGRÁFICA
1) Qual país abaixo tem como língua oficial o português?
a) Paraguai
b) Angola
c) Africa do Sul

2) A partir de que ano as regras antigas não poderão mais ser utilizadas?
a) 2010
b) 2011
c) 2012

3) Quantos países formam a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)?
a) doze
b) quatro
c) oito

4) Qual país abaixo não tem o português como língua oficial?
a) Guiné-Bissau
b) Serra Leoa
c) Timor Leste

5) Qual é o número aproximado de falantes da língua portuguesa?
a) cem milhões
b) cento e setenta milhões
c) duzentos e quarenta milhões

6) Em que ano ocorreu a última grande reforma no Brasil?
a) 1910
b) 1971
c) 1988

7) Em que ano foi criado o atual acordo ortográfico?
a) 1990
b) 2000
c) 2008

8) Em Portugal chama-se "autocarro" o que aqui chamamos "ônibus". Pergunta-se: na frase "Fiquei esperando na paragem", a palavra "paragem" significa:
a) ponto
b) fila
c) calçada

9) Com a reforma, a palavra "ação" passará a ser escrita em Portugal desta maneira. Atualmente ela é escrita como:
a) hação
b) assão
c) acção

10) Qual dos argumentos abaixo é justificado para justificar a reforma?
a) Unificar o modo de falar dos brasileiros e portugueses.
b) Facilitar a redação de documentos em tratados internacionais e no comércio de livros.
c) Simpĺificar o modo de escrever, que passa a ser igual ao modo de falar.

11) Quais as palavras que perderam o acento agudo?
a) as oxítonas com ditongo aberto.
b) as paroxítonas com ditongo aberto.

12) Na frase "Juca e Paula têm afeto pelos mais velhos", a palavra "têm", de acordo com a reforma ortográfica, está certa ou errada?
a) certa
b) errada

13) Na frase "O menino perdeu a bóia na piscina", a palavra a ser corrigida é:
a) perdeu
b) bóia
c) piscina

14) Qual das palavras abaixo perdeu o acento agudo?
a) herói
b) você
c) estréia

15) Nosso alfabeto passou a ter quantas letras?
a) 23
b) 24
c) 26

16) Quais são as letras que entraram em nosso alfabeto?
a) w
b) w; y
c) k; w; y

17) A frase "Ontem ele não _________ comparecer à aula" deve ser completada com:
a) pode
b) pôde
c) póde

18) Em qual opção todas as palavras estão de acordo com a nova regra?
a) autorretrato; auto-ajuda;
b) contra-regra; micro-ônibus;
c) micro-ondas; antirrugas.

Exercício de interpretação com charges

É bastante difícil o trabalho com charges nas séries iniciais. Um dos problemas é a dificuldade de muitos alunos em identificar os sinais não verbais que ajudam em sua interpretação. Pensando nisso, sugiro abaixo dois exercícios com charges bastante simples para introduzir esse estudo. Use-os à vontade, pois, embora não sejam muito elaborados, é um norte para quem está um pouco perdido.

Exercícios de interpretação com charges

1) Veja a charge abaixo e diga o que você sabe sobre o assunto tratado na mesma.
Para facilitar seu trabalho, escreva pequenos períodos (frases) respondendo as perguntas:
Sobre o que ela fala? É um problema atual? Como ele afeta sua vida? Há solução para
 o problema?






2. Faça o mesmo agora com a charge abaixo. Após ver a imagem, responda em forma de texto as perguntas: Sobre o que ela fala? É um problema atual? Você lembra de algum exemplo relacionado ao assunto? Há solução para o problema?





TEXTO XXV



A fábrica brasileira da General Motors em Gravataí, no Rio Grande do Sul, será usada como piloto para a implementação do novo modelo de negócios que está sendo desenhado mundialmente pela montadora. A meta   da   GM    é    transformar-se    numa    companhia    totalmente 5 voltada para o comércio eletrônico. A partir do ano 2000, a Internet passará a nortear todos os negócios do grupo, envolvendo desde os fornecedores de autopeças até o consumidor final. “A planta de Gravataí representa a imagem do futuro para toda a GM”, afirma Mark Hogan, ex-presidente da filial brasileira e responsável pela nova
divisão e-GM. (Lidia Rebouças, na Exame, dez./99)
30) Segundo o texto:
a) a GM é uma empresa brasileira instalada em Gravataí.
b) a montadora fez da fábrica brasileira de Gravataí um modelo para todas as outras fábricas espalhadas pelo mundo.
c) no Rio Grande do Sul, a GM implementará um modelo de fábrica semelhante ao que está sendo criado em outras partes do mundo.
d) a fábrica brasileira da GM vinha sendo usada de  acordo com o modelo mundial, mas a montadora pretende alterar esse quadro.
e) a GM vai utilizar a fábrica do Rio Grande do Sul como um protótipo do que será feito em termos mundiais.

31) A opção que contraria as idéias contidas no texto é:
a) A GM vai modificar, a partir de 2000, a forma de fazer negócios.
b) Será grande a importância da Internet nos negócios da GM.
c) O consumidor final só poderá, a partir de 2000, negociar pela Internet.
d) O comércio eletrônico está nos planos da GM para o ano 2000.
e) A fábrica brasileira é considerada padrão pelo seu ex-presidente.

32)Deduz-se, pelo texto, que a fábrica brasileira:
a) será norteada pela Internet.
b) terá seu funcionamento modificado para adaptar-se às necessidades do mercado.
c) será transferida para Gravataí.
d) estará, a partir de 2000, parcialmente voltada para o comércio eletrônico.
e) seguirá no mesmo ritmo de outras empresas da GM atualmente funcionando no mundo.

33) Por “implementação” (/. 2), pode-se entender:
a) complementação
b) suplementação
c) exposição
d) realização
e) facilitação

34) Segundo as idéias contidas no texto, a transformação que se propõe a GM:
a) não tem apoio dos fornecedores.
b) tem apoio do consumidor final.
c) tem prazo estabelecido.
d) é inexeqüível.
e) não tem lugar marcado.

Extraido de:http://www.analisedetextos.com.br/2010/06/exercicio-de-interpretacao-de-textos_9726.html

TEXTO XXIV



Você se lembra da Casas da Banha? Pois é, uma pesquisa mostra que mais de 60% dos cariocas ainda se recordam daquela que foi uma das maiores redes de supermercados do país, com 224 lojas e 20.000 funcionários, desaparecida no início dos anos 90. Por isso, seus antigos 5 donos, a família Velloso, decidiram ressuscitá-la. Desta vez, porém, apenas virtualmente. Os Velloso fizeram um acordo com a GW.Commerce, de Belo Horizonte, empresa que desenvolve programas para supermercados virtuais. Em troca de uma remuneração sobre o faturamento, A GW gerenciará as vendas para a família Velloso. A família cuidará apenas das 10 compras e das entregas. (José Maria Furtado, na Exame, dez./99)
26) Segundo o texto, a família Velloso resolveu ressuscitar as Casas da
Banha porque:
a) a rede teve 224 lojas e 20.000 funcionários.
b) a rede foi desativada no início dos anos 90.
c) uma empresa do ramo de programas para supermercados propôs um acordo
vantajoso, em que a rede só entraria com as compras e as entregas.
d) mais da metade dos cariocas não esqueceram as Casas da Banha.
e) a rede funcionará apenas virtualmente.

27) A palavra ou expressão que justifica a resposta ao item anterior é:
a) Você (/. 1) . ,.. . b)
desaparecida (/. 4)
c) Por isso (/. 4)
d) Desta vez (/. 5)
e) acordo {l. 6)

28) “Desta vez, porém, apenas virtualmente.”
Com a passagem destacada acima, entende-se que as Casas da Banha:
a) funcionarão virtualmente, ou seja, sem fins lucrativos.
b) não venderão produtos de supermercado.
c) estão associando-se a uma empresa de informática.
d) estão mudando de ramo.
e) não venderão mais seus produtos em lojas.

29) O pronome “Ia” (/. 5) não pode ser, semanticamente, associado a:
a) Casas da Banha (/. 1)
b) pesquisa (/. 1)
c) daquela (/. 2)
d) uma (/. 3)
e) desaparecida (/. 4)

Extraido de:http://www.analisedetextos.com.br/2010/06/exercicio-de-interpretacao-de-textos_9726.html

TEXTO XXII



Pode dizer-se que a presença do negro representou sempre fator obrigatório no desenvolvimento dos latifúndios coloniais. Os antigos moradores da terra foram, eventualmente, prestimosos colaboradores da indústria extrativa, na caça, na  pesca,  em  determinados  ofícios 5 mecânicos e na criação do gado. Dificilmente se acomodavam, porém, ao trabalho acurado e metódico que exige a exploração dos canaviais. Sua tendência espontânea era para as atividades menos sedentárias e que pudessem exercer-se sem regularidade forçada e sem vigilância e fiscalização de estranhos. (Sérgio Buarque de Holanda, in Raízes)
14) Segundo o autor, os antigos moradores da terra:
a) foram o fator decisivo no desenvolvimento dos latifúndios coloniais.
b) colaboravam com má vontade na caça e na pesca.
c) não gostavam de atividades rotineiras.
d) não colaboraram com a indústria extrativa.
e) levavam uma vida sedentária.

15) “Trabalho acurado” (l. 6) é o mesmo que:
a) trabalho apressado
b) trabalho aprimorado
c) trabalho lento
d) trabalho especial
e) trabalho duro

16) Na expressão “tendência espontânea” (/. 7), temos uma(a):
a) ambigüidade
b) cacofonia
c) neologismo
d) redundância
e) arcaísmo

17) Infere-se do texto que os antigos moradores da terra eram:
a) os portugueses
b) os negros
c) os índios
d) tanto os índios quanto os negros
e) a miscigenação de portugueses e índios

18) Pelo visto, os antigos moradores da terra não possuíam muito (a): 
a) disposição
b) responsabilidade
c) inteligência
d) paciência
e) orgulho 

TEXTO XX



Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas)
 1) Pode-se afirmar, com base nas idéias do autor-personagem, que se trata: 
a) de um texto jornalístico
b) de um texto religioso
c) de um texto científico
d) de um texto autobiográfico
e) de um texto teatral

2) Para o autor-personagem, é menos comum:
a) começar um livro por seu nascimento.
b) não começar um livro por seu nascimento, nem por sua morte.
c) começar um livro por sua morte.
d) não começar um livro por sua morte.
e) começar um livro ao mesmo tempo pelo nascimento e pela morte.

3) Deduz-se do texto que o autor-personagem:
a) está morrendo.
b) já morreu.
c) não quer morrer.
d) não vai morrer.
e) renasceu.

4) A semelhança entre o autor e Moisés é que ambos:
a) escreveram livros.
b) se preocupam com a vida e a morte.
c) não foram compreendidos.
d) valorizam a morte.
e) falam sobre suas mortes.

5) A diferença capital entre o autor e Moisés é que:
a) o autor fala da morte; Moisés, da vida.
b) o livro do autor é de memórias; o de Moisés, religioso.
c) o autor começa pelo nascimento; Moisés, pela morte.
d) Moisés começa pelo nascimento; o autor, pela morte.
e) o livro do autor é mais novo e galante do que o de Moisés.

6) Deduz-se pelo texto que o Pentateuco:
a) não fala da morte de Moisés.
b) foi lido pelo autor do texto.
c) foi escrito por Moisés.
d) só fala da vida de Moisés.
e) serviu de modelo ao autor do texto.

7) Autor defunto está para campa, assim como defunto autor para:
a) intróito
b) princípio
c) cabo
d) berço
e) fim

8) Dizendo-se um defunto autor, o autor destaca seu (sua):
a) conformismo diante da morte ;
b) tristeza por se sentir morto
c) resistência diante dos obstáculos trazidos pela nova situação
d) otimismo quanto ao futuro literário
e) atividade apesar de estar morto


Extraido de:http://www.analisedetextos.com.br/2010/06/exercicio-de-interpretacao-de-textos_9726.html

DICAS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS



01. Ler todo o texto;
02. Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura;
03. Ler o texto pelo menos umas três vezes;
04. Ler com perspicácia, sutileza;
05. Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
06. Não permitir que prevaleçam suas idéias sobre as do autor;
07. Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão;
08. Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente;
09. Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão;
10. Marcar a resposta correta apenas quando for entregar a avaliação.

Figuras de Linguagem

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



Figuras de Linguagem

Figuras sonoras

Aliteração

repetição de sons consonantais (consoantes).
Cruz e Souza é o melhor exemplo deste recurso. Uma das características marcantes do Simbolismo, assim como a sinestesia.
Ex: "(...) Vozes veladas, veludosas vozes, / Volúpias dos violões, vozes veladas / Vagam nos velhos vórtices velozes / Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas." (fragmento de Violões que choram. Cruz e Souza)

Assonância

repetição dos mesmos sons vocálicos.
Ex: (A, O) - "Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral." (Caetano Veloso)
(E, O) - "O que o vago e incóngnito desejo de ser eu mesmo de meu ser me deu." (Fernando Pessoa)

Paranomásia

o emprego de palavras parônimas (sons parecidos).
Ex: "Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre Antonio Vieira)

Onomatopéia

criação de uma palavra para imitar um som
Ex: A língua do nhem "Havia uma velhinha / Que andava aborrecida / Pois dava a sua vida / Para falar com alguém. / E estava sempre em casa / A boa velhinha, / Resmungando sozinha: / Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem..." (Cecília Meireles)

Figuras de sintaxe

Elipse

omissão de um termo ou expressão facilmente subentendida. Casos mais comuns:
a) pronome sujeito, gerando sujeito oculto ou implícito: iremos depois, compraríeis a casa?
b) substantivo - a catedral, no lugar de a igreja catedral; Maracanã, no ligar de o estádio Maracanã
c) preposição - estar bêbado, a camisa rota, as calças rasgadas, no lugar de: estar bêbado, com a camisa rota, com as calças rasgadas.
d) conjunção - espero você me entenda, no lugar de: espero que você me entenda.
e) verbo - queria mais ao filho que à filha, no lugar de: queria mais o filho que queria à filha. Em especial o verbo dizer em diálogos - E o rapaz: - Não sei de nada !, em vez de E o rapaz disse:

Zeugma

omissão (elipse) de um termo que já apareceu antes. Se for verbo, pode necessitar adaptações de número e pessoa verbais. Utilizada, sobretudo, nas or. comparativas. Ex: Alguns estudam, outros não, por: alguns estudam, outros não estudam. / "O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano." (Chico Buarque) - omissão de era

Hipérbato

alteração ou inversão da ordem direta dos termos na oração, ou das orações no período. São determinadas por ênfase e podem até gerar anacolutos.
Ex: Morreu o presidente, por: O presidente morreu.
Obs1.: Bechara denomina esta figura antecipação.
Obs2.: Se a inversão for violenta, comprometendo o sentido drasticamente, Rocha Lima e Celso Cunha denominam-na sínquise
Obs3.: RL considera anástrofe um tipo de hipérbato

Anástrofe

anteposição, em expressões nominais, do termo regido de preposição ao termo regente.
Ex: "Da morte o manto lutuoso vos cobre a todos.", por: O manto lutuoso da morte vos cobre a todos.
Obs.: para Rocha Lima é um tipo de hipérbato

Pleonasmo

repetição de um termo já expresso, com objetivo de enfatizar a idéia.
Ex: Vi com meus próprios olhos. "E rir meu riso e derramar meu pranto / Ao seu pesar ou seu contentamento." (Vinicius de Moraes), Ao pobre não lhe devo (OI pleonástico)
Obs.: pleonasmo vicioso ou grosseiro - decorre da ignorância, perdendo o caráter enfático (hemorragia de sangue, descer para baixo)

Assíndeto

ausência de conectivos de ligação, assim atribui maior rapidez ao texto. Ocorre muito nas or. coordenadas.
Ex: "Não sopra o vento; não gemem as vagas; não murmuram os rios."

Polissíndeto

repetição de conectivos na ligação entre elementos da frase ou do período.
Ex: O menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e maltrata. "E sob as ondas ritmadas / e sob as nuvens e os ventos / e sob as pontes e sob o sarcasmo / e sob a gosma e o vômito (...)" (Carlos Drummond de Andrade)

Anacoluto

termo solto na frase, quebrando a estruturação lógica. Normalmente, inicia-se uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.
Eu, parece-me que vou desmaiar. / Minha vida, tudo não passa de alguns anos sem importância (sujeito sem predicado) / Quem ama o feio, bonito lhe parece (alteraram-se as relações entre termos da oração)

Anáfora

repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
Ex: "Olha a voz que me resta / Olha a veia que salta / Olha a gota que falta / Pro desfecho que falta / Por favor." (Chico Buarque)
Obs.: repetição em final de versos ou frases é epístrofe; repetição no início e no fim será símploce. Classificações propostas por Rocha Lima.

Silepse

é a concordância com a idéia, e não com a palavra escrita. Existem três tipos:
a) de gênero (masc x fem): São Paulo continua poluída (= a cidade de São Paulo). V. Sª é lisonjeiro
b) de número (sing x pl): Os Sertões contra a Guerra de Canudos (= o livro de Euclides da Cunha). O casal não veio, estavam ocupados.
c) de pessoa: Os brasileiros somos otimistas (3ª pess - os brasileiros, mas quem fala ou escreve também participa do processo verbal)

Antecipação

antecipação de termo ou expressão, como recurso enfático. Pode gerar anacoluto.
Ex.: Joana creio que veio aqui hoje.
O tempo parece que vai piorar
Obs.: Celso Cunha denomina-a prolepse.

Figuras de palavras ou tropos

(Para Bechara alterações semânticas)

Metáfora

emprego de palavras fora do seu sentido normal, por analogia. É um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo.
Ex: A Amazônia é o pulmão do mundo. Encontrei a chave do problema. / "Veja bem, nosso caso / É uma porta entreaberta." (Luís Gonzaga Junior)
Obs1.: Rocha Lima define como modalidades de metáfora: personificação (animismo), hipérbole, símbolo e sinestesia. ? Personificação - atribuição de ações, qualidades e sentimentos humanos a seres inanimados. (A lua sorri aos enamorados) ? Símbolo - nome de um ser ou coisa concreta assumindo valor convencional, abstrato. (balança = justiça, D. Quixote = idealismo, cão = fidelidade, além do simbolismo universal das cores)
Obs2.: esta figura foi muito utilizada pelos simbolistas

Catacrese

uso impróprio de uma palavra ou expressão, por esquecimento ou na ausência de termo específico.
Ex.: Espalhar dinheiro (espalhar = separar palha) / "Distrai-se um deles a enterrar o dedo no tornozelo inchado." - O verbo enterrar era usado primitivamente para significar apenas colocar na terra.
Obs1.: Modernamente, casos como pé de meia e boca de forno são considerados metáforas viciadas. Perderam valor estilístico e se formaram graças à semelhança de forma existente entre seres.
Obs2.: Para Rocha Lima, é um tipo de metáfora

Metonímia

substituição de um nome por outro em virtude de haver entre eles associação de significado.
Ex: Ler Jorge Amado (autor pela obra - livro) / Ir ao barbeiro (o possuidor pelo possuído, ou vice-versa - barbearia) / Bebi dois copos de leite (continente pelo conteúdo - leite) / Ser o Cristo da turma. (indivíduo pala classe - culpado) / Completou dez primaveras (parte pelo todo - anos) / O brasileiro é malandro (sing. pelo plural - brasileiros) / Brilham os cristais (matéria pela obra - copos).

Antonomásia, perífrase

substituição de um nome de pessoa ou lugar por outro ou por uma expressão que facilmente o identifique. Fusão entre nome e seu aposto.
Ex: O mestre = Jesus Cristo, A cidade luz = Paris, O rei das selvas = o leão, Escritor Maldito = Lima Barreto
Obs.: Rocha Lima considera como uma variação da metonímia

Sinestesia

interpenetração sensorial, fundindo-se dois sentidos ou mais (olfato, visão, audição, gustação e tato).
Ex.: "Mais claro e fino do que as finas pratas / O som da tua voz deliciava ... / Na dolência velada das sonatas / Como um perfume a tudo perfumava. / Era um som feito luz, eram volatas / Em lânguida espiral que iluminava / Brancas sonoridades de cascatas ... / Tanta harmonia melancolizava." (Cruz e Souza)
Obs.: Para Rocha Lima, representa uma modalidade de metáfora

Anadiplose

é a repetição de palavra ou expressão de fim de um membro de frase no começo de outro membro de frase.
Ex: "Todo pranto é um comentário. Um comentário que amargamente condena os motivos dados."

Figuras de pensamento

Antítese

aproximação de termos ou frases que se opõem pelo sentido.
Ex: "Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios" (Vinicius de Moraes)
Obs.: Paradoxo - idéias contraditórias num só pensamento, proposição de Rocha Lima ("dor que desatina sem doer" Camões)

Eufemismo

consiste em "suavizar" alguma idéia desagradável
Ex: Ele enriqueceu por meios ilícitos. (roubou), Você não foi feliz nos exames. (foi reprovado)
Obs.: Rocha Lima propõe uma variação chamada litote - afirma-se algo pela negação do contrário. (Ele não vê, em lugar de Ele é cego; Não sou moço, em vez de Sou velho). Para Bechara, alteração semântica.

Hipérbole

exagero de uma idéia com finalidade expressiva
Ex: Estou morrendo de sede (com muita sede), Ela é louca pelos filhos (gosta muito dos filhos)
Obs.: Para Rocha Lima, é uma das modalidades de metáfora.

Ironia

utilização de termo com sentido oposto ao original, obtendo-se, assim, valor irônico.
Obs.: Rocha Lima designa como antífrase
Ex: O ministro foi sutil como uma jamanta.

Gradação

apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)
Ex: "Nada fazes, nada tramas, nada pensas que eu não saiba, que eu não veja, que eu não conheça perfeitamente."

Prosopopéia, personificação, animismo

é a atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais e inanimados.
Ex: "A lua, (...) Pedia a cada estrela fria / Um brilho de aluguel ..." (Jõao Bosco / Aldir Blanc)
Obs.: Para Rocha Lima, é uma modalidade de metáfora

Modernismo


 "Todo este sangue de mil raças / corre em minhas veias / sou brasileiro / mas do Brasil sem colarinho / do Brasil negro / do Brasil índio." 
 --Sérgio Milliet
Iniciou-se no Brasil com a SAM de 1922. Mas nem todos os participantes da Semana eram modernistas: o pré-modernista Graça Aranha foi um dos oradores. Apesar de não ter sido dominante no começo, como atestam as vaias da platéia da época, este estilo, com o tempo, suplantou os anteriores. Era marcado por uma liberdade de estilo e aproximação da linguagem com a linguagem falada; os de primeira fase eram especialmente radicais quanto a isto.
Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo.
Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em manifestos e revistas de vida efêmera.
Um mês depois da SAM, a política vive dois momentos importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores Mário de Andrade.
É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor.
Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
Contou com duas fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929) direção Antônio Alcântara Machado e gerência de Raul Bopp; a segunda foi publicada semanalmente em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929) e seu “açougueiro” (secretário) era Geraldo Ferraz. É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e resposta ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela “Abaporu” de Tarsila do Amaral.
1ª fase - inicia-se com o polêmico manifesto de Oswald e conta com Alcântara Machado, Mário de Andrade (2º número publicou um capítulo de Macunaíma), Carlos Drummons (3º número publicou a poesia “No meio do vaminho”); além de desenhos de Tarsila, artigos em favor da língua tupi de Plínio Salgado e poesias de Guilherme de Almeida.
2ª fase - mais definida ideologicamente, com ruptura de Oswald e Mário de Andrade. Estão nessa segunda fase Oswald, Bopp, Geraldo Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila, Patrícia Galvão (Pagu). Os alvos das críticas (mordidas) são Mário de Andrade, Alcântara Machado, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Plínio Salgado.
“SÓ A ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. / Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. / De todos os tratados de paz. / Tupi or not tupi, that is the question.” (Manifesto Antropófago)
“A nossa independência ainda não fo proclamada. Frase típica de D. João VI: — Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.” (Revista de Antropofagia, nº 1)
Foi um importante escritor modernista da primeira fase, apesar de não ter participado da SAM, integrando o grupo somente em 25. Produziu prosa ficcional, renovando sua estrutura para construir histórias curtas e do cotidiano. Privilegia o imigrante, principalmente o italiano, e sua fusão, ampliando o universo cultural de São Paulo.
Apesar de não ser tão radical como os outros modernistas contemporâneos seus, usava uma linguagem em seus contos que se aproximava muito do falado. Seus personagens do livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda falavam uma mistura de italiano e português. Retrata uma realidade citadina e realista, num tom divertido, enfatizando a vida difícil dos imigrantes e sua ascensão.
Nunca chegou a completar seu romance Mana Maria, que foi publicado um ano depois de sua prematura morte. Pouco antes do fim da vida, rompeu relações com Oswald de Andrade por motivos ideológicos, ao mesmo tempo em que sua amizade com Mário de Andrade se estreitava.
Brás, Bexiga e Barra Funda - contos com fragmentação de episódios, até registro de cenas sem interesse, mapeamento de São Paulo, exótico nos nomes das personagens, menção a produtos de consumo da época, gírias esquecidas etc.
“Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro ou casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho. (...) Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. / No bonde vinha o pai do Gaetaninho. / A gurizada assustada espalhou a notícia na noite. / — Sabe o Gaetaninho? / — Que é que tem? / — Amassou o bonde! / (...) às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima.”
Laranja da China - luso-brasileiro toma o lugar do italiano, ainda na linha do cotidiano em suas minúcias. Todos os contos apresentam uma espécie de paródia desde o título: O Revoltado Robespierre (Sr. Natanael Robespierre dos Anjos).
Obras principais:
  • Pathé Baby (1926)
  • Brás, Bexiga e Barra Funda (1927)
  • Laranja da China (1928)
  • Anchieta na Capitania de São Vicente (1928)
  • Mana Maria (romance inacabado e publicado pós-morte 1936)
  • Cavaquinho e Saxofone (coletânea de artigos e estudos, 1940)

Escreveu para Terra Roxa e Outras Terras (um de seus fundadores), para a Revista Antropofagia e para a Revista Nova (que dirigiu).
Sempre se ajustou aos padrões e foi disciplinado, com mestria sobre a língua e seus dispositivos técnicos. Exímio poeta que pode ter sua obra dividida em três etapas:
  • Pré-modernista - Nós (só de sonetos, 1917), A Dança das Horas (1919), Messidor (contendo os dois anteriores mais A Suave Colheita, 1919), Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920) e Era Uma Vez..., (1922) - influência parnasiano-simbolista, habilidoso artista do verso
  • Modernismo - A Frauta que Eu Perdi (subtítulo Canções Gregas, 1924) Meu (1925) e Raça (1925) - versos livres, sonoridade e ressurgir de algumas rimas. Raça (rapsódia da mestiçagem brasileira) pertence ao nacionalismo estético com nomeação metonímica (português = velho cavaleiro, índio reluz em cores e preto = samba), versos grandes, frases nominais e vocábulos mais raros.
  • Pós-Modernismo - Você (1930), Acaso (1938), Poesia Vária (1947), Camoniana (1956) e Pequeno Cancioneiro (1956) - retorno ao ponto de origem: versos metrificados, rimas raras, sonetos e sentimentalismo. Apanágio da técnica, reconstitui a maneira de Camões e dos Cancioneiros

 “Há uma encruzilhada de três estradas sob a minha cruz de estrelas azuis: / três caminhos se cruzam — um branco, um verde e um preto — três hastes da grande cruz. / E o branco que veio do norte, e o verde que veio da terra, e o preto que veio do leste. / derivam num novo caminho, completam a cruz unidos num só, fundidos num vértice. / Fusão ardente na fornalha tropical de barro vermelho, cozido, estalando ao calor modorrento dos sóis imutáveis: (...)” 
 --Minha Cruz!, in Raça
É uma das figuras mais importantes da poesia brasileira e um dos iniciadores do Modernismo. Do penumbrismo pós-simbolista de A Cinza das Horas às experiências concretas da década de 60 de Composições e Ponteios, a poesia de Bandeira destaca-se pela consciência técnica com que manipulou o verso livre. Participa indiretamente da SAM, quando Ronald de Carvalho declama seu poema Sapos.
Sempre pensando que morreria cedo (tuberculoso), acabou vivendo muito e marcando a literatura brasileira. Morte e infância são as molas propulsoras de sua obra. Ironizava o desânimo provocado pela doença, mas em Cinza das Horas apresenta melancolia e sofrimento por causa da “dama branca”. Além de ser um poeta fabuloso, também foi ensaísta, cronista e tradutor. O próprio autor define sua poesia como a do "gosto humilde da tristeza".
 “Febre, hemoptise, dispnéia, e suores noturnos. / A vida inteira que podia ter sido e que não foi. / Tosse, tosse, tosse. / Mandou chamar o médico: / — Diga trinta e três. / — Trinta e três... trinta e três... trinta e três... / — Respire. (...) / — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. / — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? / — Não. A única coisa a fazer e tocar um tango argentino.” 
 --Pneumotórax
Ritmo Absoluto e Libertinagem são frutos de um processo de integração com o Rio. Sua poesia contagia-se de uma visão erótico-sentimental, resultante da forma de encarar o amor a partir da experiência do corpo. Libertinagem usa lirismo solto, repleto de cenas do cotidiano, com verdadeiras aulas de solidariedade e ternura.
 “Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. / Imagino Irene entrando no céu: / — Licença, meu branco! / E São Pedro bonachão: / — Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.” 
 --Irene no Céu, in Libertinagem
Em Estrela da Manhã, atinge a plenitude de seu lirismo libertário, mostrando que tudo pode ser matéria poética: um clássico esquecido, uma frase de criança, uma notícia de jornal, a casa em que morava e até mesmo uma propaganda de três sabonetes (Baladas das três mulheres do sabonete Araxá).
Obras principais:
  • Poesia:
    • A Cinza das Horas (1917)
    • Carnaval (1919)
    • O Ritmo Dissoluto (1924)
    • Libertinagem (1930)
    • Estrela da Manhã (1936)
    • Lira dos Cinquent’Anos (1940)
    • Belo, Belo (1948)
    • Mafuá do Malungo (1948)
    • Opus 10 (1952)
    • Estrela da Tarde (1963)
    • Estrela da Vida Inteira (1966)
  • Prosa:
    • Crônicas da Província do Brasil (1937)
    • Guia de Ouro Preto (1938)
    • Noções de História das Literaturas (1940)
    • Literatura Hispano-Americana (1949)
    • Gonçalves Dias (1952)
    • Itinerário de Pasárgada (1954)
    • De Poetas e de Poesia (1954)
    • Flauta de papel (1957)
    • Andorinha, Andorinha (seleção de Carlos Drummond de Andrade, 1966)
    • Colóquio Unilateralmente Sentimental (1968)
Um dos organizadores do Modernismo e da SAM, foi o que apresentou projeto mais consistente de renovação. Começou escrevendo críticas de arte e poesia (ainda parnasiana) com o pseudônimo de Mário Sobral. Rompeu com o Parnasianismo e o passado com Paulicéia Desvairada e a Semana, da qual participou ativamente.
Injetou em tudo que fez um senso de problemático brasileirismo, daí sua investida no folclore. De jeito simples, sua coloquialidade desarticulou o espírito nacional de uma montanha de preconceitos arcaicos. Lutou sempre por uma literatura brasileira e com temas brasileiros.
“O passado é lição para se meditar e não para se reproduzir” - afirmava assim a necessidade de um presente novo, inventivo. Acreditava na arte como instrumento de debate e de combate, comportamento evidenciado em Paulicéia Desvairada. Esta obra oferece uma panorâmica da cidade e de sua vida, ao criticar a mania obsessiva de posse, aqui também satiriza a incompetência dos administradores.
 “Oh! Minhas alucinações” / Vi os deputados, chapéus altos / sob o pálio vesperal, feito de mangas-rosas, / saírem de mãos dadas do Congresso... / Como um possesso num acesso em meus aplausos / aos salvadores do meu estado amado! (...) / Mas os deputados, chapéus altos / Mudavam-se pouco a pouco em cabras! / Crescem-lhes os cornos, decemlhes as barbichas... (...) / se punham a pastar / rente do palácio do senhor presidente... / Oh! Minhas alucinações!” 
 --O rebanho, in Paulicéia Desvairada
Sua faceta de teórico de estética literária pode ser avaliado em A Escrava que não é Isaura, onde expõe pequenos e paliativos remédios da farmacopéia didático-técnico-poética do Modernismo.
 “Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. O homem atravessa uma fase integralmente política da humanidade. Nunca jamais ele foi tão ‘momentâneo’ como agora.” 
 --O Movimento Modernista - conferência
Clã do Jabuti resulta da viagem de descoberta do Brasil, numa aproximação com o folclore como fonte de criação poética. Apoiando-se nas tradições populares brasileiras, utiliza a toada, o coco, a moda, o samba para sustentar seus poemas.
Seu primeiro romance é Amar, Verbo Intransitivo que penetra na estrutura familiar da burguesia paulistana, sua moral e seus preconceitos. Aborda, ao mesmo tempo, os sonhos e a adaptação dos imigrantes na agitada Paulicéia.
Já em Macunaíma, Herói sem nenhum caráter, cria um anti-herói com um perfil indolente, brigão, covarde, sincero, mentiroso, trabalhador, preguiçoso, malandro, otário - multifacetado. Inspirando-se no folclore indígena da Amazônia, mesclando a lendas e tradições das mais variadas regiões do Brasil, constrói-se um herói que encarna o homem latino-americano. Macunaíma é uma figura totalmente fora dos esquemas tradicionais da prosa de ficção, uma aglutinação de alguns possíveis tipos brasileiros. Sempre na defesa, Macunaíma começa comendo terra e acaba sendo comido pela terra.
Renate de Males já evidencia certo distanciamento em relação ao desvairismo inicial. Em Contos de Belazarte, manifesta acentuada preocupação com uma análise psicológico-social das relações familiares, reveladas através de uma linguagem inovadora (sintático e lexicalmente).
Na obra Lira Paulistana, Mário faz uma interpretação poética de seu destino e integração com a cidade de São Paulo. O reflexo do eu na transparência do rio Tietê mostra as águas do rio como se fosse um espelho mágico.
 Inspiração - “São Paulo! comoção de minha vida ... / Os meus amores são flores feitas de original... / Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro... / Luz e bruma... Forno e inverno morno... / Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... / Perfumes de Paris... Arys!” 
 --in Poesias Completas
O Banquete é um explosivo depoimento sobre as linhas mestras do pensamento estético de Mário de Andrade, além de constituir uma sátira sobre certos comportamentos típicos no tempo da ditadura estadonovista.
 "Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são." 
 --Macunaíma
Obras Principais
  • Poesia
    • Há uma Gota de Sangue em casa Poema (1917)
    • Paulicéia Desvairada (1922)
    • Losango Cáqui (1926)
    • Clã do Jabuti (1927)
    • Remate de males (1930)
    • Poesias (1941)
    • Lira Paulistana (1946)
    • O Carro da Miséria (1946)
    • Poesias Completas (1955)
  • Conto
    • Primeiro Andar (1926)
    • Balazarte (1934)
    • Contos Novos (1946)
  • Romance
    • Amar, Verbo Intransitivo (1927)
    • Macunaíma (1928)
  • Ensaio
    • A Escrava que não é Isaura (1925)
    • O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (1935)
    • O Baile das Quatro Artes (1943)
    • Aspectos da Literatura Brasileira (1943)
    • O Empalhador de Passarinhos (1944)
    • O Banquete (1978)
  • Crônicas
    • Os Filhos da Candinha (1943)
  • Musicologia e Folclore
    • Ensaio sobre Música Brasileira (1928)
    • Compêndio de História da Música (1929)
    • Modinhas e Lundus Imperiais (1930)
    • Música, Doce Música (1933)
    • Namoros com a Medicina (1939)
    • Música do Brasil (1941)
    • Danças Dramáticas do Brasil (1959)
    • Música de Feitiçaria (1963)
  • História da Arte
    • Padre Jesuíno de Monte Melo (1946)
    • outros folhetos reunidos nas Obras Completas
Foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito destaque no Modernismo Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa o Futurismo. Formado em Direito, Oswald era um playboy extravagante: usa luvas xadrez e tinha um Cadillac verde apenas porque este tinha cinzeiro, para citar apenas algumas de suas muitas extravagâncias. Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto: milionário, extrovertido, mulherengo (casou-se 5 vezes, as mais célebres sendo as duas primeiras esposas: Tarsila do Amaral e Patrícia "Pagu" Galvão).
 “Viajei, fiquei pobre, fiquei rico, casei, enviuvei, casei, divorciei, viajei, casei... já disse que sou conjugal, gremial e ordeiro. O que não me impediu de ter brigado diversas vezes à portuguesa e tomado parte em algumas batalhas campais.” 
 --nota autobiográfica - Diário de Notícias
Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-Brasil e a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura européia e brasileira da época e criar uma verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante esquerdista, passou a divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945.
Sua obra é marcada por irreverência, coloquialismo, nacionalismo, exercício de demolição e crítica. Incomodar os acomodados, estimular o leitor através de palavras de coragem eram constantes preocupações desse autor.
 “A situação ‘revolucionária’ desta bosta mental sul-americana apresentava-se assim: o contrário do burguês não era o proletário — era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os intelectuais brincando de roda.” 
 --prefácio de Serafim Ponte Grande
Depois de participar da SAM, viaja à Europa e o diário de bordo destas viagens é o romance cubista Memórias Sentimentais de João Miramar, que os críticos chamaram de prosa telegráfica. Este romance-caleidoscópio inaugura, no nível da prosa, a tendência antinormativa da literatura contemporânea, rompendo os modelos realistas. Seus 163 fragmentos registram a trajetória do brasileiro rico de todos os tempos: Europa - casamento - amante - desquite - vida literária - apertos financeiros - ...
 “Beiramávamos em auto pelo espelho de aluguel arborizado das avenidas marinhas sem sol. / Losango, tênues de ouro bandeiranacionalizavam o verde dos montes interiores. / No outro lado azul da baía a Serra dos Órgãos serrava. / Barcos. E o passado voltava na brisa de baforadas gostosas. Tolah ia vinha derrapava entrava em túneis. / Copacabana em um duelo arrepiado na luminosa noite varada pelas frestas da cidade.” 
 --66. Botafogo, in Memórias Sentimentais de João Miramar
Em Paris, deslumbrado, descobriu a própria Terra: tinha nventado a poesia de exportação — o Pau-Brasil. Poemas-pílilas, onde mistura-se a linguagem antiga dos cronistas e jesuítas com o modo de falar atual. Com essa mistura, tempera seus poemas com sua fina ironia.
 relicácio - “No baile da Corte / Foi o Conde d’Eu quem disse / Pra Dona Benvinda / Que farinha de Suruí / Pinga de Parati / Fumo de Baependi / É comê bebê pitá e caí” 
 --Pau-Brasil
O momento esteticamente mais radical do Modernismo foi a Antropofagia. Invocando a cultura e os costumes primitivos do Brasil, este movimento afirma a necessidade de sermos um povo antropófago, para não nos atrofiarmos culturalmente. Deve-se filtrar as contribuições estrangeiras para alcançar uma síntese transformadora.
Com a crise econômica de 1929, Oswald passa por difíceis condições financeiras e se vê obrigado a conjugar o verbo “crakar”
 “Eu empobreço de repente / Tu enriqueces por minha causa / Ele azula para o sertão / Nós entramos em concordata / Vós protestais por preferência / Eles escafedem a massa / Sê pirata / Sede trouxas / Abrindo o pala / Pessoal sarado / Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irrregular.” 
 --Memórias Sentimentais de João Miramar
Falido economicamente, Oswald vai se pendurar nos “reis da vela”, os agiotas do beco do escarro (zona bancária de SP). Com isso, o autor vai recolhendo material para sua peça O Rei da Vela.
Serafim Ponte Grande é o romance que testemunha a fase de identidade ideológica com a esquerda. Serafim encarna o mito do herói latino-americano individual que parte como um louco em busca da libertação e da utopia. . Oswald projeta em Serafim o herói que vai remar sempre contra a corrente do inconformismo, procurando romper, através da crítica, do sarcasmo e da ironia as rédeas sufocantes do ser burguês. Por ser o sonhe de Serafim individual, acaba frustrando-se e, depois de aprender as duras realidades da vida, torna-se um irrecuperável marginal que cai fora do sistema.
 “— Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Em luta seletiva, antropofágica. Com outras formas do tempo: moscas, eletro-éticas, cataclismas, polícias e marimbondos! / Ó criadores das elevações ertificiais do destino eu vos digo! A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. Tenho dito. Viva a rapaziada! O gênio é uma longa besteira!” 
 --Serafim Ponte Grande
Morreu sofrendo dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os artistas da época.
epitáfio - “Eu sou redondo, redondo / Redondo, redondo eu sei / Eu sou uma redond’ilha / Das mulheres que beijei / Vou falecer do oh! amor / Das mulheres de minh’ilha / Minha caveira rirá ah! ah! ah! / Pensando na redondilha”
Obras principais:
  • Poesia
    • Pau-Brasil (1925)
    • Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade (1927)
    • Poesias Reunidas (edição póstuma)
  • Romance
    • Os Condenados (I - Alma, II - Estrela do Absinto, III - A escada, 1922 a 1934)
    • Memórias Sentimentais de João Miramar (1924)
    • Serafim Ponte Grande (1933)
    • Marco Zero (I - A Revolução Melancólica, II - Chão, 1943 a 1946)
  • Manifestos, teses e ensaios
    • Manifesto Pau-Brasil (1925)
    • Manifesto Antropófago (1928)
    • A Arcádia e a Inconfidência (1945)
    • Ponta de Lança (1945)
    • A Crise da Filosofia Messiânica (1946)
    • A Marcha das Utopias (1966)
  • Teatro
    • O Homem e o Cavalo (1934)
    • O Rei da Vela (1937)
    • A Morta (1937)
    • O Rei Floquinhos (Infantil, 1953)
  • Memórias
    • Um Homem sem Profissão (1954)
  • Crônicas
    • Telefonemas (edição póstuma)
 Evocação do Recife
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais.
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois — Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância (...)
 
 --Manuel Bandeira
 Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha  me contar
Vou-me embora pra Pasárgada.
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
 
 --Manuel Bandeira
 pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
 
 --Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade
 erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
o português.
 
 --Fragmentos do livro de poesias Pau-Brasil, de Oswald de Andrade
 Mário de Andrade
Eu insulto o burguês! O burguês níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os ‘Printemps’ com as unhas!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! (...)

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo1 Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
 
 --Fragmentos de Ode ao Burguês
Estende-se de 1930 a 1945, sendo um período rico na produção poética e também na prosa. O universo temático se amplia e os artistas passam a preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo.
 “A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o caráter destruidor pela intenção construtiva, “pela recomposição de valores e configuração da nova ordem estética”. 
 --Cassiano Ricardo
Durante algum certo tempo, a poesia das gerações de 22 e 30 conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, gosto da expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.
A poesia prossegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada antes, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. À piada sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.
O humor quase piadístico de Drummond receberia influencias de Mário e Oswald de Andrade. Vinícius, Cecília, Jorge de Lima e Murilo Mendes apresentam certo espiritualismo que vinha do livro de Mário Há uma gota de Sangue em cada Poema (1917).
A geração de 30 não precisou ser combativa como a de 22. Eles já encontraram uma linguagem poética modernista estruturada. Passaram então a aprimorá-la e extrair dela novas variações, numa maior estabilidade.
O Modernismo já estava dinamicamente incorporado `as praticas literárias brasileiras, sendo assim os modernistas de 30 estão mais voltados ao drama do mundo e ao desconcerto do capitalismo.
 "Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lírios ano nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se / na pedra." 
 --Carlos Drummond de Andrade, in Nosso Tempo
Mineiro, trabalha lecionando em Itabira e, em 45, trabalha na diretoria de um jornal comunista. Maior nome da poesia contemporânea, registrando a realidade cotidiana e os acontecimentos da época.
Ironia fina, lucidez, e calma, traduzidos numa linguagem flexível, rica, mas rica de dimensões humanas.
Poesias refletem os problemas do mundo e do ser humano diante dos regimes totalitários, da 2a GM e da guerra fria.
Poesia de Drummond apresenta uns momentos de esperança, mas prevalece a descrença diante do rumo dos acontecimentos.
Nega formas de fuga da realidade, volta-se para o momento presente.
 "Ano serei o poeta de um mundo caduco. / Também ano cantarei o mundo futuro. / Estou preso `a vida e olho meus companheiros. (...) O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente." 
 --Mãos Dadas
A partir de Lição das Coisas (1962), há maior preocupação maior com objetos, valorizando mais os aspectos visuais e sonoros - tendência concreto-formalista.
Carlos Drummond de Andrade propõe a divisão temática de sua obra, numa seleção que faz para sua Antologia Poética:
  1. o indivíduo
  2. a terra natal
  3. a família
  4. os amigos
  5. o choque social
  6. o conhecimento amoroso
  7. a própria poesia
  8. exercícios lúdicos
  9. uma visão, ou tentativa de, da existência

Obras:
  • Poesia:
    • Alguma Poesia (1930)
    • Brejo das Almas (1934)
    • Sentimento do Mundo (1940)
    • Poesias (1942)
    • A Rosa do Povo (1945)
    • Poesia até agora (1948)
    • Claro Enigma (1951)
    • Viola de Bolso (1952)
    • Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953)
    • Viola de Bolso Novamente Encordoada (1955)
    • Poemas (1959)
    • A Vida Passada a Limpo (1959)
    • Lição de Coisas (1962)
    • Versiprosa (967)
    • Boitempo (1968)
    • Menino Antigo (1973)
    • As Impurezas do Branco (1973)
    • Discurso da Primavera e outras Sombras (1978)
  • Prosa:
    • Confissões de Minas (ensaios e crônicas, 1944)
    • Contos de Aprendiz (1951)
    • Passeios na Ilha (ensaios e crônicas, 1952)
    • Fala, Amendoeira (1957)
    • a Bolsa e a Vida (crônicas e poemas, 1962)
    • Cadeira de Balanço (crônicas e poemas, 1970)
    • O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso (1972)
Mineiro, que caminha das sátiras e poemas-piada, ao estilo oswaldiano, para uma poesia religiosa, sem perder o contato com a realidade. Poeta modernista mais infuenciado pelo Surrealismo europeu.
Guerra foi tema de diversos poemas seus. Seus textos caracterizam-se por novas formas de expressão, e livre associação de imagens e conceitos.
A partir de Tempo e Eternidade (1935), parte para a poesia mística e religiosa. Dilema entre poesia e Igreja, finito e infinito, material e espiritual, sem abandonar a dimensão social.
 "Eu amo minha família sobrenatural, / Aquela que ano herdei, / Aquela que ama o Eterno. / São poetas, são musas, são iluminados / Que vivem mirando os seus fins transcendentes. / Que vivem mirando os seus fins transcendentes. / 'o mundo, minha família sobrenatural ano te possuiu. / Minha angústia vive nela e com ela, / E eu formarei poetas no futuro / `A sua imagem e semelhança. E todos ajuntando novos membros ao corpo / De que Cristo Jesus é a cabeça / Irradiarão as palavras do Eterno." 
 --communicantes
Também é poeta especulador, que usa a linguagem em busca de novos conceitos.
 "O poema é texto? O poeta? / O poema é o texto + o poeta? / O poema é o poeta - o texto? / O texto é o contexto do poeta / Ou o poeta do contexto do texto? / O texto visível é o texto total / O antetexto e o antitexto / Ou as ruínas do texto? / O texto abole / Cria / Ou restaura?" 
 --Texto de Consulta
Essa condição barroca de sua poesia associa-se a um trabalho das imagens visuais. Empolgado com a beleza, afirmava que tudo era belo pois pertencia `a Criação. Só as ações humanas justificavam o feio.
Consciência do caos, do mundo esfacelado, civilização decadente. Trabalho do poeta é tentar ordenar esse caos.
 " (...) A infância vem da eternidade. / Depois só a morte magnífica / — Destruição da mordaça: / E talvez já' a tivesse entrevisto / Quando brincavas com o pião / Ou quando desmontaste o besouro. Entre duas eternidades / Balançam-se espantosas / Fome de amor e a música: / Rude doçura / 'Ultima passagem livre. Só vemos o céu pelo avesso." 
 --Poesia de Liberdade
Para Murilo, a beleza é fundamental. Mulher, para Murilo, éigual a amor, abordada de forma erótica.
 
"Tudo o que te rodeia e te serve
Aumenta a fascinação, o segredo
Teu véu se interpõe entre ti e meu corpo,
é a grade do meu cárcere. (...)
Tudo o que faz parte de ti —  desde teus sapatos —
Está unido ao pecado e ao prazer,
`A teologia, ao sobrenatural."
 
 --Em Pânico, in Antologia Poética
Obras : Poemas (1930), História do Brasil (1932), Tempo e Eternidade (com Jorge de Lima, 1935), A Poesia em Pânico (1938), O Visionário (1941), As Metamorfoses (1944), O Discípulo de Emaús (prosa, 1944), Mundo Enigma, (1945), Poesia Liberdade (1947), Janela do Caos (1948), Contemplação de Ouro Preto (1954), Poesias (1959), Tempo Espanhol (1959), Poliedro (1962), Idade do Serrote (Memórias, 1968), Convergência (1972), Retratos Relâmpago (1973), Ipotesi (1977)
Alagoano ligado diretamente à política, estréia com a obra XVI Alexandrinos fortemente influenciado pelo Parnasianismo, o que lhe deu o título de Príncipe dos Poetas Alagoanos. Sua obra posteriormente chega a uma poesia social, paralela a uma poesia religiosa.
Na poesia social apresenta-se a cor local, através do resgate da memória do autor de menino branco com infância cheia de imagens de negros escravos e engenhos. Por vezes, amplia a abordagem com denúncia das desigualdades sociais.
 “A filha de Pai João tinha um peito de / Turina para os filhos de Ioiô mamar: / Quando o peito secou a filha de Pai João / Também secou agarrada num / Ferro de engomar. / A pele de Pai João ficou na ponta / Dos chicotes. / A força de Pai João fìcou no cabo Da enxada e da foice. / A mulher de Pai João o branco / A roubou para fazer mucamas." 
 --Pai João
A partir de Tempo e Eternidade, há a preocupação da restauração da Poesia em Cristo. Essa temática religiosa também está presente em A Túnica Inconsútil e Mira Coeli.
Tem ainda um poema épico à moda de Camões e Dante, usando 10 cantos para mostrar o dilema barroco de um homem indeciso entre o material e o espiritual.
 Mulher Proletária
Mulher proletária - única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
 tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
0 operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
 
 --Poesias, 1975
Obras:
  • Poesia - XIV Alexandrinos (1914), O Mundo do Menino Impossível (1925), Poemas (1927), Novos Poemas (1929), Poemas Escolhidos (1932), Tempo e Eternidade (em colaboração com Murilo Mendes, 1935), Quatro Poemas Negros (1937), A Túnica lnconsútil (1938), Poemas Negros (1947), Livro de Sonetos (1949), Obra Poética (incluindo os anteriores e mais Anunciação e Encontro de Mira-Celi), 1950), Invenção de Orfeu (1952)
  • Romance - Salomão e as mulheres (1927), O Anjo (1934), Calunga (1935), A Mulher Obscura (1939), Guerra Dentro do Beco (1950)
  • Teatro - A Filha da Mãe D'Água, As Mãos, Ulisses
  • Cinema - Os Retirantes (argumento de filme)
Órfã, carioca, foi criada pela avó e fez Magistério e lecionou Literatura em várias universidades.
Estréia com o livro Espectros (1919), participando da corrente espiritualista, sob a influência dos poetas que formariam o grupo da revista Festa (neo-simbolista).
Suas principais características são sensibilidade forte, intimisno, introspecção, viagem para dentro de si mesma e consciência da transitoriedade das coisas (tempo = personagem principal). Para ela as realidades não são para se filosofar, são inexplicáveis, basta vivê-las.
 Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não tinha este coração / que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
 
 --Flor de Poemas
Assim sua obra apresenta uma atmosfera de sonho, fantasia,em contraste com solidão e padecimento. Linguagem simbólica, com imagens sugestivas e constantes apelos sensoriais (metáforas, sinestesias, aliterações e assonâncias).
 Rômulo rema
Rômulo rema no rio. / A romã dorme no ramo, / a romã rubra. (E o céu.)
O remo abre o rio. / O rio murmura,
A romã rubra dorme / cheia de rubis. (E o céu.)
Rômulo rema no rio.
Abre-se a romã. / Abre-se a manhã.
Rolam rubis rubros do céu.
No rio, / Rômulo rema.
 
 --Ou isto ou aquilo
Obras:
  • Poesia : Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos Poemas (1923), Baladas para EI-rei (1925), Viagem (1939), Vaga Música (1942), Mar Absoluto (1945), Retrato Natural (1949), Ama em Leonoreta (1952), Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta (1952) Romanceiro da Inconfidência (1953), Pequeno Oratório de Santa Clara (1955) Pistóia, Cemiério Militar Brasileiro (1955) Canções (1956), Romance de Santa Cecília (1957), A Rosa (1957), Metal Rosicler (1960), Poemas Escritos na Índia (1962) Antologia Poética (1963) Solombra (1963), Ou isto ou Aquilo (1965), Crônica Trovada da Cìdade de San Sebastian (1965) Poemas Italianos (1968)
  • Teatro : O Menino Atrasado (1966)
  • Ficção : Olhinhos de Gato (s/d)
  • Prosa poética : Giroflê, Giroflá (1956), Evocação Lírica de Lisboa (1948) Eternidade de Israel (1959)
  • Crônica : Escolha o seu Sonho (1964) Inéditos (1968)
Carioca conhecido como Poetinha, participou também da MPB desde a Bossa-nova até sua morte. Assim como Cecília, inicia sua carreira ligado ao neo-simbolismo da corrente espiritualista e também a renovação católica de 30.
Vários de seus poemas apresentam tom bíblico, mas há, concomitantemente, um sensualismo erótico. Essa dualidade acentua a contradição entre o prazer da carne e a formação religiosa. Valoriza o momento com presença de imediatismos (de repente constante). Temática constante o jogo entre felicidade e infelicidade, onde muitas vezes associa a inspiração poética com a tristeza, sem abandonar o social.
 “É melhor ser alegre que ser triste / A alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração” 
 --Samba da Bênção
 “Para que vieste / Na minha janela / Meter o nariz? / Se foi por um verso / Não sou mais poeta / Ando tão feliz.” 
 --A um Passarinho
Obras:
  • Poesia: O Caminho para a Distância (1933), Forma e Exegese (1935), Ariana, a Mulher (1936), Novos Poemas (1938), Cinco Elegias (1943), Poemas, Sonetos e Baladas (1946), Pátria Minha (1949), Livro de Sonetos (1956), O Mergulhador (1965), A Arca de Noé (1970), O Dever e o Haver (inédito)
  • Teatro: Orfeu da Conceição (Tragédia carioca em três atos, escrita em versos, 1954), Cordélia e O Peregrino (em versos, 1965), Pobre Menina Rica (comédia musicada, 1962), Chacina de Barros Filho (drama, inédito)
  • Prosa: Reportagens Poéticas (inéditas em livro), O Amor dos Homens (crônicas, 1960), Para viver um Grande Amor (crônicas, 1962), Para uma menina com uma Flor (crônicas, 1966), Crônicas (in J. B. de 15/6/69 a 20/10/69)
 Fragmentos de Procura da Poesia, in A Rosa do Povo
Ano facas versos sobre acontecimentos.
Ano ha' criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
ano aquece nem ilumina. (...)
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda ano é poesia. (...)
O canto ano é  a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança, nada significam.
A poesia (ano tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto. (...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas ano há desespero,
há calma e frescura na superfície inata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escreve-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silencio.
Ano forces o poema a  desprender-se do limbo.
Ano colhas no chão o poema que se perdeu.
Ano adules o poema. Aceita-o
como ele aceitara' a sua forma definitiva e concentrada no espaço.

Chega perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? (...)
 
 --Carlos Drummond de Andrade
 Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
Onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente ano pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
 
 --Murilo Mendes
 Elegia a uma pequena borboleta
Como chegavas do casulo, / — inacabada seda viva — / tuas antenas — fios soltos / da trama de que eras tecida, / e teus olhos, dois grãos da noite / de onde o teu mistério surgia,
como caíste sobre o mundo / inábil, na manhã tão clara, / sem mãe, sem guia, sem conselho, / e rolavas por uma escada / como papel, penugem, poeira, / com mais sonho e silêncio que asas,
minha mão tosca te agarrou / com uma dura, inocente culpa, / e é cinza de lua teu corpo, / meus dedos, sua sepultura. / Já desfeita e ainda palpitante, / expiras sem noção nenhuma.
Ó bordado do véu do dia, / transparente anêmona aérea! /não leves meu rosto contigo: / leva o pranto que te celebra, / no olho precário em que te acabas, / meu remorso ajoelhado leva! (...)
Pudeste a etéreos paraísos / ascender teu leve fantasma, / e meu coração penitente ser a rosa desabrochada / para servir-te mel e aroma, / por toda a eternidade escrava!
E as lágrimas que por ti choro / fossem o orvalho desses campos, / — os espelhos que refletissem / — vôo e silêncio — os teus encantos, / com a ternura humilde e o remorso / dos meus desacertos humanos!
(Retrato Natural)
 
 --Cecília Meireles
Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das principais características do romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social.
Os escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua denúncia da realidade da região pouco conhecida nos grandes centros. O 1° romance nordestino foi A Bagaceira de José Américo de Almeida. Esses romances retratam o surgimento da realidade capitalista, a exploração das pessoas, movimentos migratórios, miséria, fome, seca etc.
Cearense, viveu na infância o problema da seca que atingiu uma propriedade de sua família. Em 1930 (aos 20 anos) publica o romance O Quinze, que lhe angaria um prêmio e reconhecimento público.
Participa ativamente da política, militando no Partido Comunista Brasileiro e é presa em 1937, por suas idéias esquerdistas. A partir de 1940 dedica-se à crônica e ao teatro. Quebrou uma velha tradição, ao tornar-se (1977) a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Sua literatura caracteriza-se, a princípio, pelo caráter regionalista e sociológico, com enfoque psicológico, que tende a se valorizar e a aprofundar-se à proporção que sua obra amadurece. Seu estilo é conciso e descarnado, sua linguagem fluente, seus diálogos vivos e acessíveis, o que resulta numa narrativa dinâmica e enxuta.
O Quinze e João Miguel há coexistência do social e ppsicológico. Caminho de Pedras é o ponto máximo de sua literatura engajada e de esquerda (mais social e político). As Três Marias abandona o aspecto social, enfatizando a análise psicológica.
Obras:
  • Romances: O Quinze(1930) e João Miguel (1932) - seca; coronelismo; impulsos passionais / Caminho de Pedras (1937) e As Três Marias (1939) - literatura engajada, esquerdizante, social e política, trata ainda da emancipação feminina / O Galo de Ouro (folhetim em “O Cruzeiro”) / Memorial de Maria Moura (1992; surpreende seu público e é adaptado para a televisão)
  • Teatro: Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958, raízes folclóricas), A Sereia Voadora.
  • Crônica: A Donzela e a Moura Torta (1948), Cem Crônicas Escolhidas (1958), O Brasileiro Perplexo (1963, Histórias e Crônicas), O Caçador de Tatu (1967)
  • Literatura Infantil: O Menino Mágico, Andira.
Paraibano, é considerado um dos melhores representantes da literatura regionalista do Modernismo. Em Recife, aproxima-se de José Américo de Almeida e Gilberto Freire, intelectuais responsáveis pela divulgação do modernismo no nordeste e pela preocupação regionalista. Mais tarde também conhece Graciliano Ramos, e depois para o Rio de Janeiro, onde participa ativamente da vida literária. Sua infância no engenho influenciou fortemente sua obra.
Suas obras Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, Moleque Ricardo, Usina e Fogo Morto compõem o que se convencionou chamar de “ciclo da cana de açúcar”. Nestas obras J. L. Rego narra a gradativa decadência dos engenhos e a transformação pela qual passam a economia e a sociedade nordestina. Sua técnica narrativa se mantém nos moldes tradicionais da literatura realista: linearidade, construção do personagem baseado na descrição dos caracteres, linguagem coloquial, registro da vida e dos costumes. O tom memorialista é o fio condutor de uma literatura que testemunha uma sociedade em desagregação: a sociedade do engenho patriarcalista, escravocrata. As obras mais representativas desta fase são Menino de Engenho e Fogo Morto. A primeira é a história de um menino, órfão de pai e mãe, que é criado no Engenho Santa Rosa, de seu avô José Paulino, típico representante do latifundiário nordestino. Há momento de grande emoção na obra, como a descrição da enchente, o castigo dos escravos, a descoberta da própria sexualidade.
Fogo Morto é considerada sua melhor obra: dividida em três partes que se interrelacionam, compõe um quadro social e humano do Nordeste. Mestre José Amaro, seleiro, orgulhoso de sua profissão, sofre as pressões do coronel Lula de Holanda, senhor do Engenho Santa Fé, em decadência econômica. Antônio Silvino, cangaceiro, é o terror da região e ataca os engenhos. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha, lunático, é uma espécie de místico e profeta do sertão.
Além destas obras, José Lins escreveu: Pedra Bonita e Cangaceiros, onde continua a traçar um quadro da vida nordestina, aproveitando agora elementos do folclore e do cordel. Estes romances pertencem ao “ciclo do cangaço, misticismo e seca”. Além destes, escreveu também Água-mãe e Eurídice, de ambientação urbana.
Obras:
  • Romances: Menino de Engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza (1937), Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939), Água-mãe (1941), Fogo Morto (1943), Eurídice (1947), Cangaceiros (1953).
  • Literatura infantil, memórias e crônicas: Histórias da Velha Totônia (1936), Gordos e Magros (1942), Seres e Coisas (1952), Meus Verdes Anos (1956).
Alagoano, faz jornalismo e política estreando com Caetés (1933). Em Maceió conheceu alguns escritores do grupo regionalista: José Lins, Jorge Amado, Raquel de Queirós. Nessa época redige S. Bernardo e Angústia.
Envolvendo-se em política, é preso e acusado de comunista, essas experiências pessoais são retratadas em Memórias do Cárcere. Em 1945 ingressa no Partido Comunista e empreende uma viagem aos países socialistas, narrada no livro Viagem.
Considerado o melhor romancista moderno da literatura brasileira. Levou ao limite o clima de tensão presente nas relações entre o homem e o meio natural, o homem e o meio social. Mostrou que essas tensões são capazes de moldar personalidades e transformar comportamentos, até mesmo gerar violência.
Luta pela sobrevivência é o ponto de ligação entre seus personagens, onde a lei maior é a lei da selva. A morte é uma constante em suas obras como final trágico e irreversível (suicídios em Caetés e São Bernardo, assassinato em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas).
Antonio Candido propõe uma divisão da obra em 3 partes:
romances em 1ª pess. (Caetés, São Bernardo e Angústia) - pesquisa da alma humana e retrato e análise da sociedade
romances em 3ª pess. (Vidas Secas) - enfoca modos se der e as condições de existência no meio da seca
autobiografias (Infância e Memórias do Cárcere) - coloca-se como caso humano, como uma necessidade de depor, denunciar
Seua personagens são seres oprimidos e moldados pelo meio. Tanto Paulo Honório (personagem de São Bernardo), quanto Luís da Silva (de Angústia) são o que se chama de “herói problemático”, em conflito com o meio e consigo mesmos, em luta constante para adaptar-se e sobreviver, insatisfeitos e irrealizados. Linguagem sintética e concisa.
Obras : Caetés (1933), S. Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), Dois Dedos (1945), Insônia (1947), Infância (1945), Memórias do Cárcere (1953), Histórias de Alexandre (1944), Viagem (1953), Linhas Tortas (1962) etc.
Nasceu na zona cacaueira baiana e depois morou em Salvador, essas referências são fontes de inspiração para suas obras. Estréia com O País do Carnaval e, levado por Rachel de Queiroz, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, por onde mais tarde torna-se deputado. Sofre perseguições políticas, exila-se e mais tarde é preso.
Na vasta ficção de Jorge Amado convivem lirismo, sensualismo, misticismo, folclore, idealismo, engajamento político, exotismo. Este painel, sem dúvida, bastante rico, aliado a uma linguagem coloquial, fluida, espontânea, aparentemente sem elaboração, tem sido responsável pela grande aceitação popular de sua obra. Além disso, seus heróis são marginais, pescadores, marinheiros, prostitutas e operários; todos personagens de origem popular. Suas obras estão ambientadas no quadro rural e urbano da Bahia e seu aspecto documental a torna autenticamente regionalista.
Podemos dividir assim a sua produção:
  • Ciclo do Cacau: Cacau, Suor, Terras do Sem Fim, São Jorge de Ilhéus - problemas coletivos, “realismo socialista”.
  • Romances líricos, com um fundo de problemática social: Jubiabá, Mar Morto, Capitães de Areia.
  • Romances de costumes provincianos, geralmente sentimentais e eróticos: Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Obra bastante vasta, incluindo ainda escritos de pregação partidária (Cavaleiro da Esperança, Os Subterrâneos da Liberdade).
Obras : A.B.C de Castro Alves; O Cavaleiro da Esperança. A vida de Luis Carlos Prestes; Agonia da Noite; O Amor de Soldado; Os Ásperos Tempos; Bahia Amada Amado (Jorge Amado e Maureen Bisilliat); Bahia de Todos os Santos; A Bola e o Goleiro; Brandão entre o Mar e o Amor; Cacau; O Capeta Carybe; Capitães de Areia; O Capitão de Longo Curso; Compadre de Ogum; A Descoberta da América pelos Turcos; Dona Flor e seus Dois Maridos; Farda Fardão Camisola de Dormir; Gabriela, Cravo e Canela; O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá; Jubiaba; Tereza Batista Cansada de Guerra; O Sumiço da Santa; Suor; Tenda dos Milagres; A Luz no Túnel; Terras do Sem Fim; Mar Morto; Tieta do Agreste; Tocaia Grande; Os velhos Marinheiros; O Menino Grapuina; O Milagre dos Pássaros; A Morte e a Morte de Quincas Berro D’gua; Navegação de Cabotagem; O País do Carnaval; Os Pastores da Noite; São Jorge dos Ilhéus; Seara Vermelha; O Capitão de Longo Curso; Os Primeiros Subterrâneos da Liberdade, I; Os Subterrâneos da Liberdade,II; Os Subterrâneos da Liberdade,III; Os Subterrâneos da Liberdade,IV.
Sua família rica foi à falência e o escritor teve que trabalhar sem possibilidade de seguir estudos. Em Porto Alegre, entra em contato com a vida literária e inicia-se no jornalismo. Começa então a publicar contos e romances, entre os quais, Clarissa, que logo se tornou um sucesso. Viajou para vários países, lecionou Literatura Brasileira nos EUA e trabalhou na OEA. Voltando ao Brasil, dedica-se a escrever e produz uma vasta obra.
Escritor de grandes dimensões, em sua produção se incluem romances, crônicas, literatura infantil. Os romances que compõem a trilogia O Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato, O Arquipélago) traçam um painel histórico de várias gerações: desde a época colonial sucedem-se as lutas entre portugueses e espanhóis, farrapos e imperiais, maragatos e pica-paus (nomes dos partidos em guerra política). Duas famílias, os Terra Cambará e os Amaral, são durante dois séculos o fio narrativo que unifica a história. Érico Veríssimo compõe uma verdadeira saga romanesca, com todas as suas características: guerras intermináveis, aventuras, amores, traições, gerações que se sucedem, criando um painel histórico da comunidade rio-grandense e do próprio Brasil. A obra é uma aglutinação de novelas, onde ressaltam as figuras épicas de Ana Terra e do Capitão Rodrigo Cambará. O estilo de Érico Veríssimo é coloquial, poético, intimista. Sua técnica de construção é o contraponto: onde várias histórias se desenvolvem paralelamente, a ação concentrada e o dinamismo. Em suas últimas obras, como O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em Antares, desenvolveu a ficção política, ambientada nos dias atuais.
Obras : Fantoches; Clarissa; Música ao Longe; Caminhos Cruzados; Um Lugar ao Sol; Olhai os Lírios do Campo; Saga; O Resto é Silêncio; Noite; O Tempo e o Vento: O Continente, O Retrato, O Arquipélago; O Senhor Embaixador; Incidente em Antares; Aventuras de Tibicuera; Gato Preto em Campo de Neve.
A literatura brasileira, assim como o cenário sócio-político, passa por transformações.
A prosa tanto no romance quanto nos contos busca uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector. Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil central. Um traço característico comum a Clarice e Guimarães Rosa é a pesquisa da linguagem, por isso são chamados instrumentalistas. Enquanto Guimarães Rosa preocupa-se com a manutenção do enredo com o suspense, Clarice abandona quase que completamente a noção de trama e detém-se no registro de incidentes do cotidiano ou no mergulho para dentro dos personagens.
Na poesia, surge uma geração de poetas que se opõem às conquistas e inovações dos modernistas de 22. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista Orfeu (1947). Assim, negando a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras “brincadeiras” modernistas, os poetas de 45 buscam uma poesia mais “equilibrada e séria”. Os modelos voltam a ser os Parnasianos e Simbolistas. Principais autores (Ledo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir de Campos e Darcy Damasceno). No fim dos anos 40, surge um poeta singular, pois não está filiado esteticamente a nenhuma tendência: João Cabral de Melo Neto.
Mineiro, formou-se em Medicina e clinicou pelo interior, foi ministro e pela carreira diplomática esteve em Hamburgo, Bogotá e Paris. Foi eleito membro da ABL e faleceu 3 dias depois de sua posse.
A obra de G. Rosa é extremamente inovadora e original. Seu livro, Sagarana (1946), vem colocar uma espécie de marco divisor na literatura moderna do Brasil: é uma obra que se pode chamar de renovadora da linguagem literária. Seu experimentalismo estético, aliando narrativas de cunho regionalista a uma linguagem inovadora e transfigurada, veio transformar completamente o panorama da nossa literatura.
O livro Grande Sertão: Veredas (1956), romance narrado em primeira pessoa por Riobaldo num monólogo ininterrupto onde o autor e o leitor parecem ser os ouvintes diretos do personagem, G. Rosa recuperou a tradição regionalista, renovando-a. Há um clima fantástico na narrativa: Riobaldo conta suas aventuras de jagunço que quer vingar a morte de seu chefe, Joca Ramiro, assassinado pelo bando de Hermógenes.
Sua narrativa é entremeada por reflexões metafísicas em torno dos acontecimentos e dois fatos se repropõem constantemente: seu pacto com o Diabo e seu amor por Diadorim (na verdade, Deodorina, filha de Joca Ramiro, disfarçada de jagunço). As dúvidas de Riobaldo têm raízes místicas e sua narrativa torna-se então não mais um documento regionalista, mas uma obra de caráter universal, que toca em problemas que inquietam todos os homens: o significado da existência, as dimensões da realidade. Mas não é só isto que é novo em G. Rosa: sua linguagem é extremamente requintada.
Recuperando as matrizes arcaicas da língua portuguesa e fundindo-as com a fala sertaneja, G. Rosa chega a criar um linguajar mítico, onde o novo e o primitivo perdem as dimensões tornando-se um linguajar ao mesmo tempo real e irreal, pessoal e universal. Arcaísmos, neologismos, rupturas, fusões, toda uma técnica elaboradíssima que torna seu discurso literário ímpar em toda a nossa literatura.
Grande Sertão: Veredas e as novelas de Corpo de Baile incluem e revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopéias, ousadias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou neológico, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos.
 “ — Êpa! Nomopadrofilhospiritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez!... / E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como des demônios soltos. / — Ô gostosura de fim-de-mundo!...” 
 --A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Obras : Sagarana (1946), Corpo de Baile (depois desdobrado em Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá no Pinhém, Noites do Sertão, 1956), Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Estórias (1962), Tutaméia - Terceiras Estórias (1967): Estas Estórias (1969), Ave, Palavra (1970).
Ucraniana, veio com meses para o Brasil - por isso, sentia se “brasileira”. Tem por formação Direito. Em 1944 forma-se e publica o livro que escreveu durante o curso - Perto do Coração Selvagem surpreendendo a crítica e agradando ao público.
Casa-se com um diplomata, afastando-se do Brasil durante longos períodos, mas sem interromper a produção artística.
Principal nome da poesia intimista da moderna literatura brasileira, questionamento do ser, “estar-no-mundo”, a pesquisa do ser humano, resultando no romance introspectivo.
Características de sua producão literária:
  • sondagem dos mecanismos mais profundos da mente humana;
  • técnica “impressionista” de apreensão dessa realidade interior (predominância de impressões, de sensações);
  • ruptura com a seqüência linear da narrativa;
  • predomínio do tempo psicológico e, portanto, subversão do tempo cronológico;
  • características físicas das personagens diluem-se: muitas nem nome apresentam;
  • as ações passam a ter importância secundária, servindo principalmente como ilustração de características psicológicas das personagens (introspecção psicológica);
  • introdução da técnica do fluxo da consciência - quebra os limites espaço-temporais e o conceito de verossimilhança, fundindo presente e passado, realidade e desejo na mente dos personagens, cruzando vários eixos e planos narrativos sem ordem ou lógica aparente;
  • presença da epifania (“revelação”): aparentemente equilibradas e bem ajustadas, subitamente as personagens sentem um estranhamento frente a um fato banal da realidade. Nesse momento, mergulham num fluxo de consciência, do qual emergem sentindo-se diferentes em relação a si mesmas e ao mundo que as rodeia; esse desequilíbrio momentâneo por certo mudará sua vida definitivamente;
  • suas principais personagens são mulheres, mas não se limitam ao espaço do ambiente familiar: Clarice visa a atingir valores essenciais humanos e universais tais como a falsidade das relações humanas, o jogo das aparências, o esvaziamento do mundo familiar, as carências afetivas e as inseguranças delas decorrentes, a alienação, a condição da mulher, a coexistência dos contrastes, das ambigüidades, das contradições do ser, num processo meio “barroco”;
  • fusão de prosa e poesia, com emprego de figuras de linguagem: metáforas, antíteses (eu x não-eu, ser x não ser), paradoxos, símbolos e alegorias, aliterações e sinestesias;
  • uso de metalinguagem - “Algumas pessoas cosem para fora; eu coso para dentro”- em associação com os processos intimistas e psicológicos, político-sociais, filosóficos e existenciais (A Hora da Estrela, 1977). “Depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros”.

Obras:
  • Romances : Perto do Coração Selvagem (1944); O Lustre (1946); A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão segundo G. H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); Água Viva (1973); A Hora da Estrela (1977).
  • Contos : Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A Legião Estrangeira (1964); Felicidade Clandestina (1971), Imitação da Rosa (1973), A Via - Crucis do Corpo (1974); A Bela e a Fera (1979).
  • Entrevista : De Corpo Inteiro
  • Literatura infantil : Mistério do Coelhinho Pensante (1967); A Mulher que Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura (1974), Quase de Verdade.
Pernambucano, passa a infância em engenhos de açúcar em contato com a terra e o povo (o que despertou seu interesse pelo folclore nordestino e pela literatura de cordel), com a palavra escrita (livros e jornais, desde os dois anos de idade) e a parentela ilustre e culta (primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freire). É eleito por unanimidade para a ABL (1969)
Estreou em 1942 com Pedra do Sono de forte influência de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Ao publicar O Engenheiro, em 1945, traça os rumos definitivos de sua obra. Em 1956, escreve o poema dramático Morte e Vida Severina, que, encenado em 1966, com músicas de Chico Buarque, consagra-o definitivamente.
Só pertenceria à Geração de 45 se levado em conta o critério cronológico; pois esteticamente afasta-se da proposta do grupo.
Características de sua produção literária: no início da carreira, apresenta um tendência à objetividade, convivendo com imagens surrealistas e oníricas (relativas aos sonhos): aos poucos, afasta-se da influência surrealista e aprofunda a tendência à substantivação, à economia da linguagem, submetendo as palavras a um processo crescente de depuração, com uso de metáforas, personificações, alegorias e metonímias (a pedra; a faca; o cão); a partir de 1945, influenciado por uma concepção arquitetônica, procede à geometrização do poema, aproximando a arte do Poeta à do Engenheiro; a preocupação com o descarnamento, com a confecção da poesia dessacralizada, afastada cada vez mais do subjetivismo e da introspecção, leva-o à elaboração do poema objeto.
Nele, o fruir poético atinge-se através da lógica do raciocínio, da razão, eliminando-se emoções superficiais (ruptura total com o sentimentalismo); o Poeta questiona o próprio ato de escrever e a função da poesia; na década de 50, surge e amadurece a preocupação política e principalmente a denúncia social do Nordeste e sua gente: os “severinos” retirantes, as tradições e o folclore regional, a herança medieval, a estrutura agraria canavieira, injusta e desigual... Aparece ainda a paisagem da Espanha, que apresenta pontos em comum com o cenário nordestino. Continua viva e atuante a reflexão sobre a Arte em suas várias manifestações, desde a pintura (Miró, Picasso, Vicente do Rego Monteiro), a literatura (Paul Valéry, Cesário Verde, Augusto dos Anjos, Graciliano Ramos, Drummond), passando pelo futebol e fechando com a sua própria maneira de poetar: “Sempre evitei falar de mim, falar-me. Quis falar de coisas. Mas na seleção dessas coisas não haverá um falar de mim?” (Morte e Vida Severina - Auto de Natal Pernambucano)
Morte e Vida Severina, obra mais popular de João Cabral, é um auto de Natal do folclore pernambucano. Sua linha narrativa segue dois movimentos que aparecem no título: “morte” e “vida”. No primeiro movimento, há o trajeto de Severino, personagem-protagonista, que segue do sertão para Recife, em face da opressão econômico-social. Severino tem a força coletiva de um personagem típico: representa o retirante nordestino. No segundo movimento, o da “vida”, o autor chama a atenção para a confiança no homem e em sua capacidade de resolver problemas.
Obras:
  • Prosa : Considerações sobre a Poeta Dormindo (1941); Juan Miró (1950)
  • Poesia : Pedra do Sono (1942); Engenheiro (1945); Psicologia da Composição (1947); O cão sem Plumas (1950); Rio (1954); Poemas reunidos (os livros anteriores mais Os Três Mal-Amados, 1954); Duas Águas (os livros anteriores mais Morte e Vida Severina, Paisagens com figuras e Uma Faca só Lâmina, 1956); Quaderna (1960); Dois Parlamentos (1961); Terceira Feira (os dois livros anteriores mais Serial, 1961); A Educação pela Pedra (1966), Poesias Completas (1968); Museu de Tudo (1975); Escola das Facas (1987); Auto do Frade (1984); Agrestes (1985); Crime na Calle Relator (1987); Sevilha Andando (1987-1993).
 Fragmento de Perto do Coração Selvagem
No momento em que a tia foi pagar a compra, Joana tirou o livro e meteu cuidadosamente entre os outros, embaixo do braço. A tia empalideceu. Na rua a mulher buscou as palavras com cuidado: — Joana... Joana, eu vi...
Joana lançou-lhe um olhar rápido. Continuou silenciosa: — Mas você não diz nada? — não se conteve a tia, a voz chorosa.— Meu Deus, mas o que vai ser de você? — Não sé assuste, tia.
— Mas uma menina ainda... Você sabe o que fez ? — Sei...
— Sabe... sabe a palavra...?
— Eu roubei o livro, não é isso?
— Mas, Deus me valha! Eu já nem sei o que faço, pois ela ainda confessa!
— A senhora me obrigou a confessar.
— Você acha que se pode... que se pode roubar? — Bem... talvez não.
— Por que então...? — Eu posso.
— Você?! — gritou a tia.
— Sim, roubei porque. quis. Só roubarei quando quiser. Não faz mal nenhum.
— Deus me ajude quando faz mal Joana?
— Quando a gente rouba e tem medo. Eu não estou contente nem triste.
 
 --Clarice Lispector
 O retirante explica ao leitor quem é e a que vai (in Morte e Vida Severina)
— O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria. fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco: há muìtos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba.
Mas ísso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a'de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar algum roçado da cinza, Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.
 
 --Cabral de Melo Neto
 O artista ordena o caos (in Grande Sertão: Veredas)
Olhe: conto ao senhor. Se diz que, no bando de Antônio Dó, tinha um grado jagunço, bem remediado de posses - Davidão era o nome dêle. Vai, um dia, coisas dessas que às vêzes acontecem, êsse Davidão pegou a ter mêdo de morrer. Safado, pensou, propôs êste trato a um outro, pobre dos mais pobres, chamado Faustino: o Davidão dava a êle dez contos de réis, mas, em lei de caborje — invisível no sobrenatural — chegasse primeiro o destino do Davidão morrer em combate, então era o Faustino quem morria, em vez dêle. E o Faustino aceitou, recebeu, fechou. Parece que, com efeito, no poder de feitiço do contrato êle muito não acreditava. Então, pelo seguinte, deram um grande fogo, contra os soldados do Major Alcides do Amaral, sitiado forte em São Francisco. Combate quando findou, todos os dois estavam vivos, o Davidão e o Faustino. A de ver ? Para nenhum dêles não tinha chegado a hora-e-dia. Ah, e assim e assim foram, durante os meses, escapos, alteração nenhuma não havendo; nem feridos êles não saíam...Que tal, o que o senhor acha? Pois, mire e veja: isto mesmo narrei a um rapaz de cidade grande, muito inteligente, vindo com outros num caminhão, para pescarem no Rio. Sabe o que o môço me disse? Que era assunto de valor, para se compor uma estória em livro. Mas que precisava de um final sustante!, caprichado. O final que êle daí imaginou, foi um: que, um dia, o Faustino pegava também a ter mêdo, queria revogar o ajuste! Devolvia o dinheiro. Mas o Davidão não aceitava, não queria, por forma nenhuma. Do discutir, ferveram nisso, ferravam numa luta corporal. A fino, o Faustino se provia na faca, investia, os dois rolavam no chão, embolados. Mas, no confuso, por sua própria mão dêle, a faca cravava no coração do Faustino, que falecia...
Apreciei demais essa continuação inventada. A quanta coisa limpa verdadeira uma pessoa de alta instrução não concebe! Aí podem encher êste mundo de outros movimentos, sem os êrros e volteios da vida em sua lerdeza de sarrafaçar. A vida disfarça? Por exemplo. Disse isso ao rapaz pescador, a quem sincero louvei. E êle me indagou qual tinha sido o fim, na verdade de realidade, de Davidão e Faustino. O fim? Quem sei. Soube sòmente só que o Davidão resolveu deixar a jagunçagem - deu baixa do bando, e, com certas promessas, de ceder uns alqueires de terra, e outras vantagens de mais pagar, conseguiu do Faustino dar baixa também, e viesse morar perto dêle, sempre. Mais dêles, ignoro. No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá êrro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso...
 
 --Guimarães Rosa